quinta-feira, 29 de abril de 2010

E no início Deus fez... a música!

Intro

Imagine o mundo sem internet. Parece estranho, mas houve uma época em que o mundo viveu sem internet e Google. Sério! E foi nessa época que comecei a dar meus primeiros passos na música. Lembro, assistindo um documentário dos Beatles, que o Paul e o John percorreram uma grande distância simplesmente para conhecer um cara que sabia tocar um determinado acorde! Eu tive um pouco mais de sorte que eles. Quando comecei já havia mais acesso à livros de música, e as famosas revistinhas com músicas cifradas era a bíblia de todo jovem que queria aprender tocar as músicas do momento. Corria todo mês às bancas para comprar a revista, e assim fui aprendendo a tocar Paralamas, Ultraje à Rigor, RPM... Era isso e os ouvidos, que com o tempo foram ficando mais treinados e as revistinhas iam ficando de lado.
Ao mesmo tempo, era muito difícil ter acesso à um instrumento decente. Demorei anos pra ver de perto uma Fender Stratocaster no Brasil. Meu mundo consistia basicamente de guitarras Gianinni, Tonantes, Dolphin... Também pode parecer impossível, mas nessa época praticamente não existia a importação de instrumentos (e de carros também, até que um dia um cara chamado Collor resolveu se rebelar contra nossas "carroças"). Então me contentava em ver as fotos do meu precioso livro, ler sobre efeitos, amplificadores e outras coisas que só existiam ali naquele mundo ilustrado.

Minha primeira guitarra foi uma Giannini Sonic, comprada com suor pelo meu pai. Lembro de como fiquei feliz na época! Para os padrões de hoje era uma guitarra, como vamos dizer... tosca. Me decepcionei quando cheguei em casa com a guitarra e liguei no aparelho de som (amplificador só comprei anos depois) e não saiu "aquele som". Fui saber mais tarde que o som que estava buscando era causado por um pedal de distorção. Outro amigo me contou que era um tal de "Flanger" que eu precisava. Aí comprei meu primeiro pedal, o tal do "Flanger". Mais um decepção, pois quando pisava no pedal não saia o tal som distorcido, mas algo que parecia um som de "jato". Pelo jeito meu amigo estava mais mal informado do que eu.


Acho que a guitarra era maior que eu...

Resumindo a história: o mundo era mais difícil para quem queria aprender a tocar. Hoje temos todos os tipos de informação disponível. Se você quer saber como tocar uma determinada música no violão, é só procura na internet e você irá encontrar milhares de cifras. Se quer saber mais sobre um determinado instrumento, é só ir no site do fabricante, ou em sites especializados. Dá até pra saber qual equipamento seu artista favorito usa! O mundo é bem mais fácil hoje pra quem quer aprender um instrumento.
Então pra começar, vamos falar sobre a escolha do primeiro instrumento. Se você já toca, pode pular o texto seguinte, ou então fique à vontade para compartilhar informações!

Escolhendo um instrumento

Comprar um instrumento pela primeira vez é como azarar uma garota numa boate: você pode ser dar bem, ou tomar um belo tapa na cara. Se você nunca tocou, e não sabe a diferença entre um guitarra e um baixo, a melhor coisa a fazer sempre antes de comprar um instrumento é pedir uma ajuda à algum amigo que saiba.

Existem instrumentos de toda a faixa de preço: dos mais baratos, geralmente fabricados em massa com materiais não tão bons, aos exorbitantes instrumentos vintage. Você não precisa assaltar um banco nem falir a empresa do seu pai para ter um excelente instrumento. É só ter um pouco de bom senso e pesquisar bastante antes de comprar.
Muita gente acaba por optar por um instrumento muito barato na hora de começar por medo de investir um dinheiro e depois desistir. Isso acaba prejudicando o início do aprendizado, pois se instrumento é ruim, certamente será mais difícil de tocar, e muitas vezes acaba rolando um desestimulo justamente por causa disto.

Meu conselho é: compre o melhor que você puder. O bom instrumento é um excelente investimento, e mesmo que você desista depois (não faça isso!), pode sempre vendê-lo por um bom preço, se for um bom instrumento.

A verdade é que a qualidade dos instrumentos de hoje melhorou muito. Alguns fabricantes brasileiros estão fazendo instrumentos muito bons, e os importados tem ótimo preço. Até instrumentos de países cuja imagem é geralmente associada à instrumentos de baixa qualidade estão fabricando excelentes instrumentos, por um preço muito baixo. É o caso da China, onde muitos dos grandes fabricantes instalaram suas fabricas (isso me lembra o caso dos carros asiáticos, que antigamente eram considerados péssimos pelos americanos, e hoje em dia dominam o mercado).

Preste também atenção ao estilo de música que você gosta, e o tipo de instrumento que são utilizados no estilo. Por exemplo: se você é baterista e quer tocar Metal ou um estilo mais pesado, provavelmente vai precisar de dois bumbos ou de um pedal duplo e muitas peças de bateria. Se vai tocar rock clássico, um bom set básico já serve. O mesmo serve para guitarras, baixos, etc.

Uma boa recomendação é apostar em instrumentos clássicos, modelos consagrados de marcas renomadas. Uma guitarra Fender Stratocaster americana é um clássico, pode ser utilizada em diversos estilos, e perde pouco valor com o tempo (algumas até pelo contrário, ficam mais caras...). Se for demais pro seu bolso, existem sempre instrumentos similares mais baratos (a Stratocaster mexicana tb é um ótimo instrumento, e é mais barata).
Mas a melhor recomendação de todas é: pesquise muito! Aproveite que a internet está aí para facilitar nossa vida, e pesquise sobre instrumentos, marcas, valores, etc. Se não tiver dinheiro pra comprar um novo, invista em um usado! As minhas melhores guitarras, violões, e amplificares foram comprados usados por um preço ótimo, e depois de muita pesquisa. Sites como o mercado livre são uma grande ajuda na hora de procurar por preços e instrumentos novos e usados.

E se você não tiver um amigo que possa te ajudar, não se preocupe! Existem fóruns especializados com pessoas dispostas à ajudar, como o do Cifra Club. Use sempre o bom senso para julgar as informações, e assim poderá fazer uma boa escolha.

Agora o mais importante: seja feliz e não tenha medo de errar! Se seu sonho é ter uma guitarra rosa da Hello Kitty, sem problema! O que importa é você tenha entusiasmo para estar sempre com o instrumento ao seu lado.

Até amanhã!

Um pequeno caso curioso...

Quando minha primeira banda estava se formando (na verdade a "banda" era eu e outro amigo guitarrista), estávamos à procura de um baixista. Convencemos um amigo, que na época era uma revelação do surf amador, campeão brasileiro, a tocar baixo na banda. Ele já tinha noção de violão, e pela lógica seria mais fácil tocar um instrumento de 4 (baixo) cordas do que um de 6 (violão). Enfim, ele tinha que comprar o baixo, e a loja mais perto era há uma hora de onde morávamos. Naquela época, para uns moleques, sair da Barra da Tijuca para o centro da cidade era uma verdadeira viagem. Fomos então eu e o futuro baixista. Eu queria comprar um case (estojo) pra minha guitarra. Chegamos na loja meu amigo escolheu seu baixo (um verdadeiro pau de corda), e o vendedor me perguntou pra qual guitarra seria um estojo. Eu respondi que era pra minha Giannini Stratosonic (minha segunda guitarra, um verdadeiro upgrade, rs) e ele então pegou um case e colocou uma Giannini Stratosonic pra ver se cabia. Coube. Beleza, pagamos e fomos embora.
Durante o caminho, estava achando o case meio pesado. Mas tudo bem. Voltamos pra Barra, e fomos direto mostrar o baixo pro nosso amigo guitarrista (que aliás n tinha guitarra, usava uma emprestada). Ele viu o baixo, tudo muito bacana, e na hora de abrir o case pra mostrar pra ele... A guitarra da loja veio junto! O vendedor esqueceu de tirar a guitarra do case (ou não)! Interpretamos aquilo como um sinal divino, e resolvemos presentear nosso amigo guitarrista com a guitarra (na verdade ligamos pra loja pra explicar o ocorrido e ninguém nunca foi buscá-la. Será? N lembro bem, rs).

domingo, 25 de abril de 2010

Então você quer montar uma banda?

Bem-vindos!

Quando tinha apenas 9 anos de idade, me deparei com um livro que iria mudar minha vida. "Toque" era um curso de violão e guitarra vendido em fascículos nas bancas. Era basicamente uma tradução do "Guitar Book", do Ralph Denyer. Por uma sorte meu pai comprou todos os fascículos, na intenção de aprender a tocar violão, o que infelizmente acabou nunca acontecendo.

Na época, morávamos em Resende, interior do Rio de Janeiro, e eu dividia minha infância entre Atari, BMX, e jogar bola na rua com a molecada. Meu pai, funcionário de uma multi nacional, acabou sendo transferido para a fria cidade de Rochester, Nova Iorque, onde moramos por quase 2 anos. Na época a MTV americana dava seus primeiros passos, e eu assistia com fascinação clipes de AC/DC (You Shook Me All Night Long), The Clash (Rock The Casbah), Van Halen (Jump, Hot For Teatcher) e a tosca Twisted Sister. O clipe de "We're Not Gonna Take It" traduzia bem o que eu queria fazer na época. O garotinho tocando aquela Stratocaster Vermelha, respondendo à pergunta do adulto:

- "Who are you, what do you wanna do with your life?" (Quem é você, o que você quer fazer com sua vida?)
- "I wanna rock!!!" (Eu quero Rock!)

E ao tocar um acorde na guitarra, o garoto jogava pra longe o adulto! Sim, aquilo era vida. "That's the way you do it, you play the guitar on the MTV". Eu ali já sabia muito bem o que queria: tocar guitarra!

Pros meus pais aquilo parecia mais uma moda da infância, assim como minha Bicicross, meus Transformers, Legos... Não consegui minha guitarra.

Foi então que o livro entrou na minha história. Ali estava tudo que precisava aprender para tocar guitarra, pra fazer parte daquele mundo. Numa época onde não existia internet, "Toque" era uma bíblia salvadora, com todo o tipo de informação que eu precisava. De instrumentos à guitarristas, de efeitos à regulagens de guitarras, o livro era minha salvação. Devorava aquelas informações, enquanto simulava performances com raquetes de tênis e guitarras de papelão, enquanto não convencia meus pais à comprar uma guitarra.

Meus pais ainda não estavam convencidos. Para tocar guitarra, teria que aprender violão, foi o que disseram. Eu ainda não me dava por vencido. E foi assim que, utilizando as informações do livro e seus disquinhos com aulas, dei meus primeiros passos na música. Com a ajuda do livro, aprendi violão. Com muito esforço e paciência dos vizinhos, fiz meus primeiros acordes e toquei "Asa Branca" no violão da minha mãe. E no meu aniversário de 11 anos finalmente ganhei minha sonhada guitarra.

Contei essa pequena história pra ilustrar como o acesso à informação pode mudar completamente o rumo de nossas vidas. Imagino como seria minha vida hoje se meu pai não tivesse comprado o tal livro. Provavelmente nunca teria aprendido a tocar violão e teria uma vida completamente diferente da que tenho hoje. Talvez hoje trabalhasse num escritório, e me recordasse deste sonho distante de infância de um dia tocar guitarra.

Infelizmente na minha vida não me deparei com nenhum livro que me ensinasse sobre o show business e a vida dentro de uma banda aqui no Brasil. Tive que aprender tudo do zero, cometendo erros e acertos, seguindo muitas vezes a intuição, e quebrando a cara diversas vezes. É lógico que viver de música não é como aprender a tocar violão. Não existe uma fórmula, não existe um curso. Mas com certeza minha vida seria mais fácil se muita informação que demorei anos pra adquirir me fosse colocada disponível por outros que trilharam o mesmo caminho. Infelizmente não tive um tutor, alguém em que pudesse me apoiar nos ombros e enxergar na frente. Muito pelo contrário. Encontrei mais barreiras do que caminhos pavimentados, mas mesmo assim não me abati e segui em frente (e até hoje sigo nesta constante escalada de obstáculos). Mas nem todo mundo tem essa determinação (ou essa paciência), e durante esses anos vivendo de banda e de música vi muita gente talentosa desistindo. Não os culpo, pois realmente é difícil. Mas penso em como tudo poderia ser diferente se essas pessoas tivessem acesso à informações valiosas de como se organizar como banda, de como funciona o mercado, de como se posicionar, enfim, informações que os ajudassem nesta difícil vida de artista.

Foi desse ponto que partiu a idéia desse Blog. Depois de anos recebendo e-mails de pessoas que estão começando e querem um caminho das pedras, resolvi organizar os conhecimentos que adquiri durante esses anos pra quem tentar ajudar quem busca respostas neste nosso louco mercado de música brasileiro. A idéia é passar adiante a informação, e o que eu não souber, vou tentar buscar de pessoas que saibam. Farei entrevistas com outros artistas, produtores e empresários, e vou postá-las aqui. Conto com a colaboração e crítica de vocês leitores!

Quem sabe um dia possa organizar isso em um livro, sem a pretensão de ser um livro definitivo como foi "Toque" pra minha vida, mas algo que possa ajudar outros músicos, artistas, produtores, DJs, empresários, e quem quer viver de música, a ser organizar de uma forma mais produtiva e profissional.

Até o próximo post!